Catadores de materiais recicláveis apresentam as dificuldades desse trabalho no dia-a-dia
Cássia Alves, Veronica Brito e Weder Marques, colaboradores da Vira em Guarulhos (SP)*
*Texto e fotos produzidas por estudantes da Escola Estadual Maria Aparecida Rodrigues, de Guarulhos (SP). O trabalho resulta de uma oficina realizada pelo projeto de monitoria Ciências Sociais Linguagens e Tecnologias, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Hoje, no Brasil, existem 500 mil catadores de lixo. Deste total, dois terços trabalham em São Paulo e, em sua maioria, têm entre 40 a 55 anos, segundo informações de Rodrigo Martins, da Agência USP. O trabalho dos catadores consiste em recolher material descartado que pode ser reciclado, como papéis, vidros, metais etc.
Atualmente, a dificuldade em encontrar trabalho após os 40 anos leva algumas pessoas a recorrer ao trabalho de catador como meio de sobrevivência. Em Guarulhos (SP), no Bairro dos Pimentas, esta realidade não é diferente, como é possível notar na entrevista com a catadora Joana (nome fictício), que nos relatou os motivos que a levaram a esse trabalho.
Ao se separar do marido, grávida e com dois filhos pequenos e sem nenhuma qualificação profissional, Joana encontrou apenas esta alternativa para sobreviver. Quando se mudou para Guarulhos sofreu muita discriminação pelas suas condições, chegando a passar fome. Quando ganhou uma geladeira velha e a transformou em um carrinho de catador, passou a obter o seu sustento com este trabalho.
Na nossa sociedade, podemos perceber que os indivíduos que só possuem sua própria força de trabalho e não encontram emprego, têm na coleta de materiais recicláveis uma fonte de sobrevivência. O que para muitos é lixo que não serve mais pra nada, para outros se torna fonte de renda. Esses catadores, além de ganhar a vida coletando e separando materiais recicláveis, ajudam a preservar o meio ambiente.
A renda mensal deles é muita baixa, chegando a menos de um salario mínimo. Além da remuneração insuficiente, não possuem direitos garantidos, como carteira assinada, seguro desemprego, entre outros. O valor do salário deve-se também aos atravessadores que compram os matérias dos catadores por um preço muito baixo e os revendem por um preço mais alto.
O trabalho de catador é muito insalubre, porque eles ficam expostos ao risco de pegarem doenças. A profissão é arriscada devido ao fato de não possuírem proteção e ficarem vulneráveis à contaminação.
Devido a esse grande número de catadores em várias regiões do Brasil, eles começaram a se organizar em nível local em cooperativas e até mesmo em nível nacional, reivindicando direitos trabalhistas para esse ofício. Um exemplo dessa organização é o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, que existe há 10 anos e luta por seus direitos através de passeatas.
Apesar da profissão não ser ainda respeitada, esse é um meio de sobrevivência digno diante do processo de precarização do trabalho formal. Além disso, é um meio de ajudar o meio ambiente contra os efeitos da acumulação dos resíduos produzidos pela população. Por isso, antes de olharmos torto para aqueles que limpam nossa cidade, devemos ter respeito e ajudá-los na transformação dos seus direitos e na responsabilidade com o mundo.